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Entregador de Água

O Entregador de Água – Parte 5 [Final]

Entregador de Água

Imagem: Divulgação

AUTOR: SEGA

Eu e João passávamos os finais de semana em casa, refugiados do mundo. Não fazíamos nada além de transar. De vez em quando ele dava uma passada lá no meio da semana, só para conversar, dizendo que sentia saudade; em outras vezes era eu quem sentia saudade e o chamava. Na verdade eu pensava nele o dia todo e desconfio que ele pensava em mim também. O tempo passou e transar não foi mais suficiente. Nós começamos a ir em baladas, lanchonetes, e o dinheiro que eu vinha guardando para pagar o cheque-caução de um apartamento que eu queria alugar, ficou estático, não cresceu durante três meses. Ele também vinha gastando bastante e também precisava poupar, pois queria comprar uma moto. Ganhava mais que eu porque além de entregar água, dava uma mão para o amigo na oficina de funilaria e como morava com os pais, não tinha tantos gastos.

    Juntamos nosso dinheiro e alugamos o apartamento que eu queria. Passei a trabalhar com design gráfico depois que chegava da empresa, desenferrujando os skills que desenvolvera num curso lá em Tietê. Era preciso trabalhar mais e nós dois trabalhamos bastante até comprarmos a moto. Nosso vira-lata, Cometa, veio logo depois. João começou a faculdade e depois de quatro anos terminou. O valor do condomínio aumentava num ritmo maior que o nosso salário e foi mais inteligente alugar uma casa de fundo, na Zona Norte, direto com o proprietário cujo valor nos permitiria poupar o que já não conseguíamos.

    Eu não passei um dia sem me apaixonar por João. Me excitava com meu chefe novo e o nosso vizinho, um homem recém-casado, vivia me dando deixas para que nos encontrássemos ― eu pensei em encontra-lo várias vezes porque ele de fato era muito bonito, mas era mais pelo perigo mesmo.

    Desde que tinha perdido a virgindade eu tinha transado com o mesmo homem. E amado o mesmo homem, meu homem, que chegou numa terça-feira à noite, mais tarde que o normal dizendo que ele e Mirela tinham se apaixonado.

    “Quem é Mirela?”

    Era a professora de Educação Física da escola que ele dava aula.

    “Voltei só agora porque estávamos decidindo o melhor jeito de contarmos para você.”

     Paguei a última parcela do nosso colchão novo. Dei banho em Cometa logo que cheguei do trabalho. Tomei eu mesmo um banho e corri lavar a louça ― como eu era péssimo na cozinha, nosso acordo era: eu lavo a louça, você faz a comida. Esperei ele chegar, estranhei o atraso, me preocupei, mandei mensagens que ele não respondeu e afinal ouvi esse papo de “nós”. Ele não dormiu em casa, disse que me daria um tempo para pensar. É claro que ele não pensaria sozinho, pensaria junto à professora de Educação Física que, numa pesquisa rápida no Facebook, descobri ser casada e três anos mais nova que eu.

    Não me dei tempo para chorar. Tinha subido de cargo, me especializado com alguns cursos em São Paulo, aprendido uma nova língua, tirado carta, mantido uma rotina de exercícios físicos e exames médicos atualizada. No dia seguinte conversei com meu patrão sobre tirar as férias que eu tinha direito e após uma explicação aqui e outra ali, tudo bem, mas que antes passasse lá.

    Ele disse que sentia muito, mas ele não sentia. Tranquei a porta e ele tirou a calça. Ele tinha 39 anos, uma barba mantida com esmero e exalava um perfume amadeirado na camiseta preta. Ele sentou na cadeira e eu sentei nele.

    “Eu sempre quis te comer.”

    “Eu sei. Não sabia que eu queria dar pra você até agora e, porra, como eu queria dar pra você!”

    “Talvez seu relacionamento não estivesse tão bom assim pra nenhuma de vocês dois.”

    “Isso não quer dizer nada. Ele errou.”

    “Eu não erraria.”

    “Você faz terapia, não faz? Como é? É bom mesmo?”

    “É. Chega a ser assustador de tão bom.”

    Em casa arrumei minhas coisas rápido, botando na mala só o estritamente essencial. Bati no vizinho e perguntei se ele podia me ajudar com uma coisa. Eu tinha desenvolvido no último ano um fetiche por homens casados. Transamos no sofá, na cama e na mesa da cozinha. Ele falava muita putaria, usava artigos, pronomes e adjetivos femininos ao se referir a mim: ela, a putinha.

    “Tá gostando de dar pro seu macho, é? Implora o pau do seu macho, então, implora!”

    “Me chama de veadinho. Veadinho do 5ºB. Mariquinha pão-doce. Boiolinha.”

    “Veadinho!”, e metia. “Veadinho do 5ºB, rebolando na pica do casado!”, metia, metia. “Mariquinha pão-doce, boiolinha, tá gostando?! Vai gozar com o pau no cu, seu baitola.” Baitola, essa é nova. Meteu cada vez mais forte.

    No espaço de quatro horas, foi bom transar com os dois homens que viviam me provocando, após dias sem fazê-lo. Não senti culpa nem remorso.

    Fui até o banco, na Avenida Itavuvu, saquei todo o dinheiro da nossa conta conjunta e fiz uma ligação. Tomei um banho, esperei. Ainda faltavam duas horas para João chegar quando meus pais estacionaram o carro na frente de casa. Deixei um bilhete na geladeira.

    Minha mãe chorou assim que me viu. Tanto ela quanto meu pai tinham o olhar culpado de quem entregara o filho aos leões. Depois de 6 anos eu estava pronto para voltar. Não houve abraços e desculpas nem nada disso. Eu só entrei no carro junto com Cometa e nós voltamos para Tietê.

    No dia seguinte, na minha antiga cama, no meu antigo quarto, inspirei como se tivesse voltado à superfície após um longo mergulho. Meus pais conversavam na sala, brincando com Cometa, e o veadinho do 5ºB acordava para um novo dia.

Continua amanhã

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3 comentários

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  1. Puto de Campo Grande

    Olha esse conto começou muito bom, mas se perdeu ao longo das partes. Sem conexão, sem continuidade da história… Como se deu a transa entre os dois? Como João conheceu essa prof de educação física? Sabe ficaram algumas lacunas. Perdeu todo o tesão lamentavelmente. No final diz que vai ter continuidade, mas o título fala q é final. Não entendi?

  2. Doutor H

    Tinha de tudo para ser um bomconto e com tesão, mas as varias mudanças de interlecutor sem sinalização e sequencia, as incoerencias gritantes o tornaram massante, sem expectativa. Enfim, uma perda de tempo.


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